segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Paisagens da alma

Existem lugares que não visito mais já tem um longo tempo, não por que não gosto deles, mas por amá-los demais. Nesses lugares que agora moram no meu baú de memórias, habitam pessoas lindas que amei e que já partiram, ruas sem pavimentação, muros pequenos que demarcam o local e não para proteção, portões que enfeitam a casa, jardins com plantas floridas e aromas de comidas e plantas que alegram minha saudade. Por um tempo achei que seria besteira de minha parte não voltar a essas paisagens, mas meu coração pediu pra não voltar. Até porque ele já não existe mais no mundo real.
Assim como Heráclito disse certa vez: "não se pode entrar no mesmo rio duas vezes", o Rubem Alves me falou em uma frase: "se você ama muito um lugar, não cometa o erro de visitá-lo". Esses meninos sabidos sabiam o que falavam. Agora eles moram em mim. Fazem parte de minha história, são ancestralidades de pertencimento. E nunca estou sozinha. Os ensinamentos que hoje pratico são frutos dessas histórias vividas e hoje são lembranças.
A gente nunca sabe se aquele abraço é o último, se aquele beijo ou conversa será uma despedida, a gente nunca sabe de nada. E por isso mesmo vivemos o tempo todo como se fosse único, porque eles são únicos não voltam como o rio do pensador. O tempo foge entre os dedos, corre solto e por isso aproveito cada pedacinho. Guardo todos como retratos pra pendurar na minha parede de paisagens, eles não se vão, mas passam a fazer parte de mim.
E nas voltas que o mundo dá, dizem que quando a morte vem nos buscar, a nossa vida passa como um filme em nossos olhos. Acredito que esse filme será muito lindo. São paisagens que vivem na alma como uma coleção de quadros de cores vibrantes. Aproveite o dia, colha o dia, pois ele é único.

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