terça-feira, 13 de novembro de 2018

A capa vermelha

Nos livros de Lobato a Emília tem uma canastra, onde guarda as coisas mais importantes pra ela, para muitos são apenas lixo e porcarias que ela acha por aí. Esse feriado aproveitei pra arrumar umas gavetas e encontrei minha "canastra", entre coelhinhos gastados, sapatinhos furados e fantoches surrados estava ela, a capa vermelha que eu costurei. Lembrei-me que a muito tempo atrás ele queria ser o super homem, não encontramos a fantasia dele em lugar nenhum, mas ele só queria a capa, então eu costurei uma. Pra mim , era só um pedaço de pano vermelho com um cordão pra amarrar no pescoço, mas pra ele era  "a capa".
Fechei meus olhos e lembrei do dia que o vento no quintal não ajudou e tive que ligar o ventilador para que aquela capa preguiçosa pudesse voar. Pra ele era uma segunda roupa, tinha que estar sempre limpa e  seca a sua espera da escola. Foi dormindo com ela que os sonhos ruins deixaram de existir, com essa companheira que agora dorme tranquilamente esquecida numa gaveta de lembranças que os superpoderes da alegria estavam pela casa. Lembrei do dia que a parede estava escrita com uma história que ele me contou, sim, porquê pra entender aqueles "hieroglifos" na parede somente com tradução simultânea.
Na parede da minha memória pude vê-lo correndo pela casa segurando a capa que o protegia de tudo, das dores do mundo, dos "ralamentos" que ardiam no banho e que dava coragem pra pular de um sofá pra outro sem medo de cair. Então fechei a caixa de lembranças, guardei-as para outras ocasiões. Fazer arrumação as vezes toma tempo por causa dessas coisas, organizar guardados é como um máquina do tempo. E assim como a Emília, eu também tenho uma canastra, quem não?
E nas voltas que o mundo dá, ser mãe de menino é saber que o herói está logo ali dormindo no quarto ao lado, que não precisa de capa, que vai ser sempre uma companhia e que eu não estou só. É ter histórias pra contar, e ter um mundo todo azul, ou vermelho como a capa que deu super poderes, assim como a  do Dr. Estranho, Super Homem, Mulher Maravilha, Thor, ou quem sabe de Leônidas, o líder dos espartanos. Todos já tiveram sua capa vermelha.

domingo, 25 de março de 2018

Semeadura

O Paulo Freire afirmou certa vez que: "Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". Sempre sabido esse Paulo. Na sexta-feira passada fui a uma festa tipicamente cigana, logo eu a antissocial que tem restrições alimentares agora, mas que fique claro não tenho restrições emocionais. Se tivesse tava ferrada. No evento lindo e cheio de belezas das quais eu desconhecia, dois jovens me procuram, sabia que os conhecia, mas não lembrava os seus nomes. Eram Jonatan e Vando, o primeiro agora docente de Educação Física e mestre caminhando pra um doutorando, o outro, um dos escultores mais importantes da cidade, ambos foram meus alunos do ensino médio.
Ao encontra-los ouço histórias das suas percepções a meu respeito, lembraram até os dias que levei o Pedro pra sala de aula por não ter com quem deixá-lo e não queria perder a aula. Me contaram das mudanças em suas vidas e o mais gratificante, eu fui importante para a sua formação (joguei confete e serpentina em mim agora), desculpa aí tá, mas eles me fizeram sentir que a semeadura deu uma excelente colheita.


Jonatan Silva

O Rubem Alves, outro menino sabido, disse certa vez que: "Quem experimenta a beleza está em comunhão com o sagrado". Ah, Rubem, meu querido, experimentei a beleza de ver que meus amados alunos se tornaram grandes, seguiram seus caminhos e agora saem por aí multiplicando conhecimento, semeando novas bonitezas pelo mundo a fora. E nas voltas que o mundo dá, a vida não deve ser economizada e quem não tem jardim por dentro não pode ser jardim por fora. Adorei te encontrar Jonatan e Vando.