quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Teimosia

Galeano contou certa vez que um homem da aldeia de Neguá no litoral da Colômbia, subiu aos céus e de lá viu que os humanos formam um mar de foguinhos. Não existem duas fogueiras iguais, tem gente que é fogo intenso e tem gente que é fogo sereno. Alguns são fogos bobos e outros fogos loucos. Fico imaginando esses fogo louco, que quer contagiar as pessoas com sua esperança de mudança. Esses fogos são teimosia. A primavera eu vejo como esse fogo que vem renovar a vida, mostrar que dá pra esperançar em dias melhores.
Camus disse: "No meio do inverno, descobri um verão em mim invencível". É no inverno que o a terra guarda a semente, e na primavera ela brota. Confesso que a estação mais linda e que tenho mais apreço é a primavera. Olho pra ela e vejo uma menina que se arruma pra si mesmo, se perfuma e se enfeita com suas cores vibrantes. Ela é o foguinho do Galeano que contagia, o fogo louco que ilumina os dias de sol e céu azul. A esperança de Camus, e ela tá batendo na porta, já consigo ver seus sinais.



E nas voltas que o mundo dá, chegou setembro, dias mais quentes, iluminados e com perspectivas de mudanças, uma teimosia da vida em insistir em brotar. A esperança se alimenta de pequenas coisas, essas coisas que florescem no coração das pessoas, no sorriso na cara lavada, na vontade de fazer tudo novo de novo. Na teimosia dos ipês.


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Esperando

Agosto é um mês gelado, mas tem suas bonitezas, os ipês começam a floração avisando que a primavera vai chegar, o céu se veste de azul intenso contrastando com a beleza do amarelo, daqui a pouco as acácias também estarão vermelhas, amarelas e laranjas enfeitando as avenidas da cidade, e eu fico esperando essa decoração da natureza que se enfeita na mudança da estação mais linda do ano. Para mim a mais gostosa de se viver.

O ipê e a abelha

A coruja no muro do quintal

O jardim se aprontado

O Rubem Alves uma vez falou que a gente vive a espera da felicidade, há quem diga que a felicidade é o caminho e não a chegada. Cada um com suas conotações. O fato é que eu aguardo a chegada da primavera como quem espera o bem amado. E nas voltas que o mundo dá, a espera é uma constante na vida de todo mundo, o desejo também. Então, eu desejo o fim do inverno, espero a chegada da bonita que faz os dias mais leves, embeleza as ruas, perfuma o ar, e aguardo a chegada de novos tempos, mais leves e mais promissores. Primavera e amada estação, seja bem vinda e não demore pra chegar e fique o máximo que puder.

 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Paisagens da alma

Existem lugares que não visito mais já tem um longo tempo, não por que não gosto deles, mas por amá-los demais. Nesses lugares que agora moram no meu baú de memórias, habitam pessoas lindas que amei e que já partiram, ruas sem pavimentação, muros pequenos que demarcam o local e não para proteção, portões que enfeitam a casa, jardins com plantas floridas e aromas de comidas e plantas que alegram minha saudade. Por um tempo achei que seria besteira de minha parte não voltar a essas paisagens, mas meu coração pediu pra não voltar. Até porque ele já não existe mais no mundo real.
Assim como Heráclito disse certa vez: "não se pode entrar no mesmo rio duas vezes", o Rubem Alves me falou em uma frase: "se você ama muito um lugar, não cometa o erro de visitá-lo". Esses meninos sabidos sabiam o que falavam. Agora eles moram em mim. Fazem parte de minha história, são ancestralidades de pertencimento. E nunca estou sozinha. Os ensinamentos que hoje pratico são frutos dessas histórias vividas e hoje são lembranças.
A gente nunca sabe se aquele abraço é o último, se aquele beijo ou conversa será uma despedida, a gente nunca sabe de nada. E por isso mesmo vivemos o tempo todo como se fosse único, porque eles são únicos não voltam como o rio do pensador. O tempo foge entre os dedos, corre solto e por isso aproveito cada pedacinho. Guardo todos como retratos pra pendurar na minha parede de paisagens, eles não se vão, mas passam a fazer parte de mim.
E nas voltas que o mundo dá, dizem que quando a morte vem nos buscar, a nossa vida passa como um filme em nossos olhos. Acredito que esse filme será muito lindo. São paisagens que vivem na alma como uma coleção de quadros de cores vibrantes. Aproveite o dia, colha o dia, pois ele é único.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Cheguei nos cinquenta

Esse mês completei cinquenta voltas entorno do astro rei. Confesso que o templo biológico não é mais o mesmo, cheguei na metade de um século, no meio da estrada, digo agora que sou uma mulher de meia idade, pois ainda faltam mais cinquenta pela frente. Quando jovem, ouvia dizer que aos cinquenta a gente é velha, chega no topo da ladeira e começa a descer. Nesse meio século aprendi a lidar com meus impulsos, já não ligo mais com determinados comentários, mas também não permito outros tipos perto de mim.
Continuo amando o mar como nunca, agora, aos cinquenta, termino o mestrado, tenho outros planos, continuo tendo meus delírios de um mundo melhor, continuo fazendo os filhos ficarem com vergonha com meus abraços e apertos fora de hora. Ainda me jogo no chão pra ouvir minhas músicas e aliviar a tensão de dias ruins. Não encontrei nenhum E.T no meu quintal, mas ainda é o meu lugar preferido da casa, fora a cozinha de estar. E os cinquenta chegou depressa, e me trouxe alguns cabelos brancos, algumas marcas de expressão, e essas coisinhas que o tempo e a gravidade insiste em nos presentear.




E nas voltas que o mundo dá, acho que cinquetar pra mim é ser meio Belchior. Uma hora eu tenho medo de tudo, "medo de avião", outra hora eu quero "amar e mudar as coisas", depois acredito que "viver é melhor que sonhar". E tenho a sorte de um amor tranquilo, de filhos feitos de amor, de dias de verão depois de invernos de vagantes brancos. E como é bom cinquentar! Meu novo verbo favorito por agora.
 

domingo, 10 de julho de 2022

Paisagens

As vezes vejo a vida como uma coleção de imagens, elas são carregadas de histórias. Em Roma vemos essas lindezas em todos os lugares. A janela no vaticano, a paisagem de longe. As margens do rio, o templo de Esculápio que é também o deus grego Asclépio, filho de Apolo com Corônis e criado por Quíron que o educou nas artes da cura com ervas medicinais. E por fim a mais linda de todas as fontes, a fontana di Trevi. Viajar em lugares assim, é como participar de uma máquina do tempo. As ruínas que mostram a história da cidade e contam como era a vida dos habitantes.




E nas voltas que o mundo dá, é tanta gente em todo canto que é difícil tirar uma foto só do local. E das lindezas que se ver nas pinturas de tetos e paredes, lembro de van Gogh quando disse: "aqueles que sabem pintar são as sementes de algo que vai existir por muito tempo, enquanto houver olhos que saiba apreciar o que é belo". Viva a arte! Ela nos salva da loucura do mundo.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Encanto

Esses dias ouvi um palestrante contar que para ter prosperidade é preciso se despedir de tudo que já partiu, fotografias de gente morta, objetos que pertenceram a pessoas que já morreram, essas coisas. Todas devem ser deixadas fora de casa ou doadas. Nem me dei ao desrespeito de ouvir o restante. Se a gente deixa de lembrar, de ver, de se alegrar por ter tido a honra de conviver com alguém que temos afeto, o que sobrará de nós? Somos feitos de memórias de vidas que passaram por nós, somos resultados da nossa ancestralidade.
Tem uma frase do Guimarães que mais gosto "as pessoas não morrem, ficam encantadas". Na vida, aprendi a dizer até logo para muitas pessoas que se encantaram, mas não consegui tirá-las de perto de mim. E as vezes elas me visitam, seja numa lembrança, num ensinamento deixado, numa memória guardada no quadro da alma feito uma pintura. Na noite passada vislumbrei um desses quadros. 
Aprendi com alguns encantados que o conhecimento são meios para se viver bem. E me ensinaram a abrir a  janela pra o vento entrar, levar o que não faz bem e trazer o amor pra dentro, a sentir a dor do outro e nunca parar de lutar dentro das possibilidades. E nas voltas que o mundo dá, gosto de ver estrelas, o por do sol, ouvir as ondas do mar, sem esquecer os encantos que a vida pode oferecer apesar dos dessabores. Os encantados vivem comigo.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Barulhinho bom

O dia começou frio, cedo, a feira já movimentada com a venda de milho verde. Logo começa o trabalho em casa, a preparação da pamonha e da canjica, a fogueira sendo montada na frente da casa, as buchas de aço sendo escondida, a meninada já tinha pego um pacote pra logo mais a noite. As meninas preparando sua roupa de festa, laços de fita, e as simpatias do final do dia pra ver com quem deveria se casar. A casa tinha cheiro de canela, milho, cravo, açúcar queimado e o som da sanfona enchendo a atmosfera festeira. Assim começava o dia mais esperado do ano.
Depois de muito trabalho e preparação, a fogueira era acessa, as buchas de metal viravam bolinhas de fogo girando no cordão de barbante, se compartilhava com os vizinhos as comidas de milho. Tinha gente pulando fogueira se tornando compadres e comadres, tinha bombinhas "beijo de moça", os mais velhos contavam causos na beira da fogueira enquanto se aqueciam. E tinha faca vigem na bananeira, tinha gente atrás da porta com a boca cheia de água, tinha santo pendurado de cabeça pra baixo, tinha vela pingando na água, eras as simpatias que começavam nos festejos de santo Antônio e iam até São Pedro.
Depois das oitos todos alimentados e com simpatias em dia, chegava a vez do forró até a neblina da chegada das altas horas esfriar. E no dia seguinte, tinha gente dormindo em camas, sofás, em colchões e tapetes e até debaixo da mesa. E tudo começava outra vez, tinha café pilado no pilão, cuscuz de milho fresco, macaxeira e queijo coalho. O cheiro de festividade, confraternização e bolos diversos tomava conta de tudo. E nas voltas que o mundo dá, a festa se comercializou, saiu de casa e foi para os grandes centros, agora são grandes eventos. Não tem mais a magia do interior, disseram. Fomos buscar na roça, dia frio começando hoje, milho colhido no pé começando os trabalhos, a fogueira já montada aguarda pra ser acessa, e a  mágica começou novamente. Não teremos fogos, respeitamos os passarinhos, mas teremos buchas de aço no barbante sim, com o barulhinho do ria correndo logo ale do lado. Viva São João!

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Linhas

Ali em Riacho doce, pertinho da Garça Torta tem uma casa azul e branca, nela as bordadeiras se encontram pra colorir o tecido branco com fios de linha criando imagem que fazem parte da vida praiana, tem coqueiros, sereias, conchas e uma infinidade de flores em cores vibrantes. Lembro-me de viver cercada por bordadeiras, as mulheres de minha vida sempre praticaram o bordado, tinha de todo jeito, todos os pontos e de todas as cores. A mãe além dos bordados emendava tecidos com linhas discretas e fazia todo tipo de roupa. Uma vida dedicada a arte de vestir e colorir o mundo.
Hoje, fui passar o café e vi os bordados na toalha da mesa, foi a tia quem vez, na blusa que minha mãe bordou e até hoje a tenho, tem também uma bolsa que vai chegar das bordadeiras de Riacho doce. Lembrei da boneca Lilica que minha tia costurou pra mim. As mulheres da minha vida continuam em suas linhas coloridas enfeitando os tecidos brancos da casa e se fazendo presente em imagens que contam histórias.

Bordado das meninas de Riacho doce - AL

A vida é assim, um tecido de linho branco que a gente pega a linha da cor dos sentimentos, e colore o linho com histórias que acontecem ou que gostaríamos que fosse real, e elas ficam ali, no suporte de toalhas no banheiro, na mesa da cozinha, na bolsa que a gente leva o mundo dentro. E cada vez que se admira com é lindo, como é forte, com é representativo a arte da vida. Lembro de vó em sua cadeira de palhinha amarelas e madeira em estilo colonial, contando suas memórias e registrando no pano branco.
E nas voltas que o mundo dá, comprei novas linhas, bordarei novas histórias em memória dessas meninas sabidas que tanto me ensinaram e que ainda moram dentro de mim. Também quero pegar o meu cabelo e costurar no travesseiro as histórias que quero lembrar. As bandeirolas de são João, o balanço das ondas do mar, os amores que comigo vivem, as alegrias de quintal e os passarinhos no céu. Bordar é viver uma vida dentro de outra, é escolher a cor da linha pra começar o dia. É tempo de sonhar.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

O caminho do guerreiro

Hoje completam dezenove anos da chegada do meu mais novo guerreiro, venceu obstáculos desde a infância, me ensinou a ter paciência e o valor das coisas e não o preço delas. Sempre com essa cara que não esconde sentimentos, me ensinando todos os dias a ver o mundo sob novas nuances. Amigo dos animais, estudante do meio ambiente, adestrador de cães e amante do meio ambiente. Gosto dessas fotos por que elas me fazem ver com você é. Minha lindeza.






E nas voltas que o mundo dá, já se passaram os tempos de criança, mas sempre será o meu samurai, meu filho, a minha cor, meu amor, minha cara. Minha joia rara.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Sofrer

Uma das invenções mais legais dos último tempos, foram os discretos fones de ouvidos, eles funcionam como um teletransporte. Acho tão chique quando a gente coloca eles, as pessoas não se aproximam muito pra não interromper, além do fato de poder ascender ao mundo particular das músicas escolhidas a dedo e que a gente pode levar pra onde quiser. Esses dias no ônibus, sem meu preciso "teletransporte" ouvi uma senhora contando como o sofrimento ajuda as pessoas a serem melhor, com um discurso tipo: "a dor, ensina a gemer" e que Deus permite que soframos para conquistar o paraíso. Que saudade dos meus fones!
A dor torna as pessoas mais brutas, tira a sensibilidade, a esperança, a alegria de viver. O sofrimento embrutece, não vejo glórias na dor, quero a alegria de um analgésico, e eles sempre surgem em forma de sorrisos, abraços. Já vi gente ruim por normatizar o sofrimento, mas vejo gente feliz espalhando afetos, abraços, felicidades. O único sentimento que é gratificante, não adoece, não mata, nem embrutece é o amor e o respeito.
Uma criança que vai a escola por obrigação e tem a responsabilidade de tirar notas altas caso, contrário não vai ganhar presentes, ou vai ficar de castigo, ou até mesmo apanhar, não conhece a boniteza do amor e do afeto. Se ela aprende com prazer de descobrir novos mundos, novas leituras de mundo lhe é permitido e a aprendizagem se torna uma rotina prazerosa.  E nas voltas que o mundo dá, não quero sofrer pra alcançar o paraíso que nem sei se existe, não quero que a vida seja bruta mais do que já é. Eu quero a alegria de dias ensolarados, de sorrisos soltos, abraços apertados, pois só o amor liberta e oferece felicidade.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Desafio

O Guimarães tem um personagem muito lindo chamado Riobaldo em Grandes sertões veredas e uma das frases que mais gosto, é quando ele diz: "a vida é assim: esquenta, esfria. Aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". Pois bem Riobaldo, esses dias tive um desafio. O que para muito é natural, para mim, ah, para mim era de um medo sobrenatural, aterrador, descer ladeira. O meu desafio era não só descer, mas também subir, não uma ladeira qualquer, mas a serra do Marçal. E nesses últimos quatro meses fiz isso toda semana. E ela já não me assustava mais, aprendi a gostar do desafio. E como uma viajante me deixei levar pelo vento, o cheiro e as lindas paisagens que ela presenteia seus viajantes. E assim, chegamos a mais um ciclo fechado.

Eu, Geysa e  a orientadora Arlete

Nós e nossos graduandos de pedagogia

Cabelos ao vento

Um gavião dando seu passeio matinal

Apreciando o sol e fazendo fotossíntese.

E nas voltas que o mundo dá, a vida é assim, esquenta e esfria. E por falar em frio, há rumores que ele está chegando com força total já, já. Em outros tempos também não gostava das tempestades, hoje sou amante dela, assim como de dias ensolarados. E vida, seja gentil, aperta, mas não muito, afrouxa, mas não me largue, esquente, mas não esfrie demais. E o que temos pra hoje é coragem.



segunda-feira, 9 de maio de 2022

A loba

Certa feita, o Ruben escreveu que as mães de seu tempo eram árvores, cresciam sobre raízes profundas, era criadas para obedecer, primeiro os pais, depois o marido. Eram como as "mulheres de Atena" não saíam do lugar e muitas vezes eram podadas. Depois elas viraram pássaros e voaram. A minha mãe era uma loba, criou os filhos praticamente sozinha, pois enviuvou muito cedo, trabalhou duro pra educar todo mundo, cada um com uma personalidade diferente, e nós, éramos muitos. Fui vendo a sua força e ousadia, sua coragem de se mostrar destemida quando tudo causava medo, que me tornei uma loba.
Na alcateia, a fêmea lidera o passo e segue na frente guiando os demais, os filhotes quando assumem a maturidade se afasta para criar suas próprias famílias. A loba mantem seus instintos e aprende com suas ancestrais. Conquista o respeito de todos e toma decisões sem interferências, mas também é protetora, cuida dos seus e quando sai de sua toca deixa os pelos para aquecer as crias de outras fêmeas de outras espécies.
Romantizaram a maternidade dizendo que todas as mulheres devem ser mãe um dia, que a maternidade nos torna forte, que sabemos tudo sobre os filhos e mais um monte de asneiras, e muita gente acreditou nisso. Sinto informar, mas estavam errados. Nem toda mulher quer ser mãe ou deveria ser, a maternidade não nos deixa sem medos, muito pelo contrário, temos medo de tudo, mas o amor nos oferece uma força descomunal, é o amor incondicional que nos torna como lobas. Passamos a viver com outro coração fora do nosso corpo, batendo e sentindo. E vivemos em outra vida, o pensamento sempre ocupado, é como se tivesse a mesma alma habitando outros corpos, tememos por tudo.
E nas voltas que o mundo dá, aprendi com minhas ancestrais que respeito é a base dos afetos, da confiança e da lealdade, que o medo pode existir, mas o amor materno é imensurável. Eu quero ser a cultivadora de alegrias e sonhos nessa unidade familiar permanente. Ontem foi um dia de lembrar, das mulheres que amei, das quais com quem cresci, da mulher que tornei, das que vieram antes de mim, das que virão depois de mim. Embora seja uma data capitalista voltada para o consumo, também é uma data de reflexão.


domingo, 1 de maio de 2022

Mandala

Para a filosofia, mandala é um diagrama composto de formas geométricas concêntricas, utilizada no hinduísmo e no budismo como objeto ritualístico na prática da meditação, assim ela é considerada a representação do universo e do ser humano. Para teoria Junguiana, representa a luta pela unidade total do EU. Na agroecologia a mandala é muito mais que a representação do eu é o círculo sagrado da produtividade baseada no respeito a todos os seres vivo e sua interação com meio ambiente.
O projeto mandala desenvolvido pelo Dr. Willy Pessoa Rodrigues tem como princípio a produção agrícola sustentável e permanente, é um conjunto de círculos concêntricos aonde o centro dele se encontra uma fonte de água com criação de patos, peixes ou outro animal que deve enriquecer a água da irrigação com seus degetos, essa água deve ser usada para irrigar a mandala nutrindo o solo. 
Os três primeiros círculos são denominados “Círculo de Melhoria da Qualidade de Vida Ambiental”, e destina-se ao cultivo de hortaliças e plantas medicinais, atendendo às necessidades de subsistência da família. Os cinco anéis seguintes formam os “Círculos da Produtividade Econômica”, e se destinam a culturas complementares diversas, como milho, feijão verde, abóbora e frutíferas, cuja produção em maior escala permite criar excedente para comercialização, gerando renda para o agricultor. O último anel da Mandala é denominado “Círculo do Equilíbrio Ambiental” e destina-se à proteção do sistema, com cercas vivas e quebra-ventos, como forma de melhorar a produtividade e prover parte da alimentação animal, além da oferta dos nutrientes necessários à recuperação do solo.
No nosso projeto de mandala, optamos por ter no centro um galinheiro, ligado ao piquete com um corredor central, assim elas podem transitar para o "dormitório" e saírem para ciscar e viverem felizes enquanto fertilizam o solo e se alimentam dos insetos que poderiam causar danos para as plantas, assim as pessoas se alimentam de ovos e de carne de galinhas que viveram felizes, sem sofrimento de viver confinada. O primeiro circulo fica com os temperos e plantas medicinais que também oferecerão flores para as abelhas que ficam nas árvores do quintal ecológico. E o último circulo estão as árvores frutíferas como abacate, limão, laranja e caju, também temos um umbuzeiro enxertado o umbu gigante.
Na nossa mandala a irrigação será feita por gravidade com água corrigida pra evitar a salinidade, também temos os canteiros de ciscar para as galinhas. Tudo realizado com aulas práticas integrando conteúdos da base comum como biologia, história, matemática, física, assim como as aulas do curso profissionalizando de agroecologia.

Formando os círculos


                                             Círculos marcados respeitando a topografia do terreno


Irrigação feita por gravidade.

Aula prática sobre as escolhas das plantas


Aula sobre vasão e irrigação

Implantar uma mandala não é só escolher holisticamente por que é bonita, mas envolve diversas ciências, a escolha das plantas, o controle das pragas, a criação de animais felizes e uma série de outras informações são de extrema importância para a produção de alimentos saldáveis, sem fertilizantes químicos, sem agrotóxicos, sem sofrimento. Respeitando todas as vidas desde o solo até o ar e, sobretudo, de quem se encontra no topo da cadeia alimentar, sem nunca esquecer a mãe terra, a grande provedora de alimentos. É uma experiência gratificante que tenho tido a oportunidade de fazer parte, e até nas aulas ninguém fica na frente do outro estão todos alinhados na mesma curva de nível, respeitando, a diversidade, promovendo a inclusão. E nas voltas que o mundo dá, a produção com base no modelo agroecológico e agroflorestal são formas de proteger a si e aos outros, garantir a permanência da vida sobre a terra sem degradação. E desenvolver a cidadania planetária por meio da ecopedagogia. Em breve mais noticias sobre o andamento do projeto.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Riso

Moro em uma cidade que se encontra a mais de 900 metros acima do nível do mar, costuma ter um ambiente predominantemente frio, mas quando faz sol parece que tem um pra cada moleira. Nesses últimos meses, tenho decido a serra para a prática do tirocínio. Cedinho ainda, a serração toma conta da paisagem, no caminho, pastagens e grandes cercas de eucaliptos formam uma bordadura na estrada, e lá entre rios e montanhas surgem pequenos pontinhos brancos de bois pastando. Vejo a serra como uma serpente que tem curvas elaboradas e as vezes confesso um certo desconforto.

Serra do Marçal

Serra do Marçal

Na pausa pra almoçar me deparo com um cartaz um tanto interessante. E fiz amizade com Pudim, um cachorro muito educado que vive nas instalações da UESB de Itapetinga. Tenho conhecido pessoas interessantes também. Geysa é minha nova amiga-colega-companheira de estágio. E a gente vai seguindo com os novos desafios de uma nova fase da vida. Confesso que nunca tive maiores encantos por essa cidade, mas as idas e vindas pra concluir essa etapa do mestrado tem me mostrado que outras perspectivas são possíveis.

Eu e Geysa rindo da situação

Conhecendo o abismo da serra

Pousando na paisagem

A serra cedinho


Cartaz de um restaurante popular.

E nas voltas que o mundo dá, é preciso conhecer a totalidade concreta a partir de outras totalidades concretas de menor complexidade, assim é preciso entender as categorias, as contradições  e mediações para entender o mundo e suas voltas. Espero que a gente possa rir da vida, mas sem rir de tudo por que assim seria desespero.

segunda-feira, 21 de março de 2022

O cuidar e a afetividade

Esse final de semana resolvi arrumar uns armários. Essa tarefa sempre é demorada, pois demanda muitas histórias afetivas em objetos encontrados, perdidos, guardados, esquecidos, mas com histórias pra contar, recontar, relembrar, compartilhar. Durante seis anos meu Pedro foi filho único, mas um dia soube da noticia da chegada do irmão. Na época tinha esse tal tamagotchi. Um chaveirinho com um bichinho virtual que precisava comer, passear, dormir enfim, fazer todas as coisas que uma criança deveria fazer. Demandava cuidado, pois caso não fosse alimentado morreria. Expliquei para ele que quando o irmão chegasse eu deveria que cuidar dele, e isso diminuiria o tempo de atenção com o mais velho, para entender melhor demandei uma responsabilidade, cuidar de um tamagochi. Ele cuidou com esmero, e quando precisava fazer tarefa ou brincar com outras coisas deixava seu bichinho sob minha responsabilidade, e com diversas exigências de cuidado. Um dia o "bichinho" morreu e foi o seu primeiro "luto", difícil explicar para uma criança de seis anos o que é perder algo que se tem afeto, mesmo que seja um bichinho virtual.

Tamagouchi. Fonte: Google 2022.

Com a experiência vivida, aprendeu que cuidar demanda tempo e esse empo dedicado cria raízes que a gente costuma chamar de afeto. Ele entendeu que quando eu cuidava do irmão ele também poderia participar, e sempre haveria tempo pra ele, depois da escola, na hora de dormir, sempre que precisasse eu estaria ali, ao alcance das suas mãos mesmo quando se tornasse menino grande. Leonardo Boff, é um dos meninos grandes que eu vejo com a morosidade em seus escritos. Quando ele fala do cuidar, é com tanta propriedade, para ele "O cuidar é diferente do descuido, está antes do agir humano, é mais que um ato". Vejo a palavra trocada por amor. Por que só quem ama, cuida, e o faz em todas as esferas, seja o autocuidado, é o cuidado com o próximo igual, o diferente, a natureza, a responsabilidade afetiva.
E nas voltas que o mundo dá, a gente segue contando histórias, juntando pedaços, criando nossa manta protetora de bordados de linhas douradas com afetos. E esperando que como disse o Boff: Que o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que prevaleça em todas as relações (BOFF, 1999, p. 191).