segunda-feira, 27 de junho de 2022

Encanto

Esses dias ouvi um palestrante contar que para ter prosperidade é preciso se despedir de tudo que já partiu, fotografias de gente morta, objetos que pertenceram a pessoas que já morreram, essas coisas. Todas devem ser deixadas fora de casa ou doadas. Nem me dei ao desrespeito de ouvir o restante. Se a gente deixa de lembrar, de ver, de se alegrar por ter tido a honra de conviver com alguém que temos afeto, o que sobrará de nós? Somos feitos de memórias de vidas que passaram por nós, somos resultados da nossa ancestralidade.
Tem uma frase do Guimarães que mais gosto "as pessoas não morrem, ficam encantadas". Na vida, aprendi a dizer até logo para muitas pessoas que se encantaram, mas não consegui tirá-las de perto de mim. E as vezes elas me visitam, seja numa lembrança, num ensinamento deixado, numa memória guardada no quadro da alma feito uma pintura. Na noite passada vislumbrei um desses quadros. 
Aprendi com alguns encantados que o conhecimento são meios para se viver bem. E me ensinaram a abrir a  janela pra o vento entrar, levar o que não faz bem e trazer o amor pra dentro, a sentir a dor do outro e nunca parar de lutar dentro das possibilidades. E nas voltas que o mundo dá, gosto de ver estrelas, o por do sol, ouvir as ondas do mar, sem esquecer os encantos que a vida pode oferecer apesar dos dessabores. Os encantados vivem comigo.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Barulhinho bom

O dia começou frio, cedo, a feira já movimentada com a venda de milho verde. Logo começa o trabalho em casa, a preparação da pamonha e da canjica, a fogueira sendo montada na frente da casa, as buchas de aço sendo escondida, a meninada já tinha pego um pacote pra logo mais a noite. As meninas preparando sua roupa de festa, laços de fita, e as simpatias do final do dia pra ver com quem deveria se casar. A casa tinha cheiro de canela, milho, cravo, açúcar queimado e o som da sanfona enchendo a atmosfera festeira. Assim começava o dia mais esperado do ano.
Depois de muito trabalho e preparação, a fogueira era acessa, as buchas de metal viravam bolinhas de fogo girando no cordão de barbante, se compartilhava com os vizinhos as comidas de milho. Tinha gente pulando fogueira se tornando compadres e comadres, tinha bombinhas "beijo de moça", os mais velhos contavam causos na beira da fogueira enquanto se aqueciam. E tinha faca vigem na bananeira, tinha gente atrás da porta com a boca cheia de água, tinha santo pendurado de cabeça pra baixo, tinha vela pingando na água, eras as simpatias que começavam nos festejos de santo Antônio e iam até São Pedro.
Depois das oitos todos alimentados e com simpatias em dia, chegava a vez do forró até a neblina da chegada das altas horas esfriar. E no dia seguinte, tinha gente dormindo em camas, sofás, em colchões e tapetes e até debaixo da mesa. E tudo começava outra vez, tinha café pilado no pilão, cuscuz de milho fresco, macaxeira e queijo coalho. O cheiro de festividade, confraternização e bolos diversos tomava conta de tudo. E nas voltas que o mundo dá, a festa se comercializou, saiu de casa e foi para os grandes centros, agora são grandes eventos. Não tem mais a magia do interior, disseram. Fomos buscar na roça, dia frio começando hoje, milho colhido no pé começando os trabalhos, a fogueira já montada aguarda pra ser acessa, e a  mágica começou novamente. Não teremos fogos, respeitamos os passarinhos, mas teremos buchas de aço no barbante sim, com o barulhinho do ria correndo logo ale do lado. Viva São João!

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Linhas

Ali em Riacho doce, pertinho da Garça Torta tem uma casa azul e branca, nela as bordadeiras se encontram pra colorir o tecido branco com fios de linha criando imagem que fazem parte da vida praiana, tem coqueiros, sereias, conchas e uma infinidade de flores em cores vibrantes. Lembro-me de viver cercada por bordadeiras, as mulheres de minha vida sempre praticaram o bordado, tinha de todo jeito, todos os pontos e de todas as cores. A mãe além dos bordados emendava tecidos com linhas discretas e fazia todo tipo de roupa. Uma vida dedicada a arte de vestir e colorir o mundo.
Hoje, fui passar o café e vi os bordados na toalha da mesa, foi a tia quem vez, na blusa que minha mãe bordou e até hoje a tenho, tem também uma bolsa que vai chegar das bordadeiras de Riacho doce. Lembrei da boneca Lilica que minha tia costurou pra mim. As mulheres da minha vida continuam em suas linhas coloridas enfeitando os tecidos brancos da casa e se fazendo presente em imagens que contam histórias.

Bordado das meninas de Riacho doce - AL

A vida é assim, um tecido de linho branco que a gente pega a linha da cor dos sentimentos, e colore o linho com histórias que acontecem ou que gostaríamos que fosse real, e elas ficam ali, no suporte de toalhas no banheiro, na mesa da cozinha, na bolsa que a gente leva o mundo dentro. E cada vez que se admira com é lindo, como é forte, com é representativo a arte da vida. Lembro de vó em sua cadeira de palhinha amarelas e madeira em estilo colonial, contando suas memórias e registrando no pano branco.
E nas voltas que o mundo dá, comprei novas linhas, bordarei novas histórias em memória dessas meninas sabidas que tanto me ensinaram e que ainda moram dentro de mim. Também quero pegar o meu cabelo e costurar no travesseiro as histórias que quero lembrar. As bandeirolas de são João, o balanço das ondas do mar, os amores que comigo vivem, as alegrias de quintal e os passarinhos no céu. Bordar é viver uma vida dentro de outra, é escolher a cor da linha pra começar o dia. É tempo de sonhar.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

O caminho do guerreiro

Hoje completam dezenove anos da chegada do meu mais novo guerreiro, venceu obstáculos desde a infância, me ensinou a ter paciência e o valor das coisas e não o preço delas. Sempre com essa cara que não esconde sentimentos, me ensinando todos os dias a ver o mundo sob novas nuances. Amigo dos animais, estudante do meio ambiente, adestrador de cães e amante do meio ambiente. Gosto dessas fotos por que elas me fazem ver com você é. Minha lindeza.






E nas voltas que o mundo dá, já se passaram os tempos de criança, mas sempre será o meu samurai, meu filho, a minha cor, meu amor, minha cara. Minha joia rara.