Um
lugar pode ser definido como sendo a porção do espaço geográfico dotada de
significados particulares e relações humanas. Houve um tempo em que igrejas
eram lugares feitos para o pensamento, a calmaria, a contemplação. Templos com
vitrais, colunas, com cheiro de incenso, instrumento musical característico
para a música que eleva o espírito. As feiras livres era um lugar de muitas cores,
sabores e cheiros. As ruas dos centros das cidades cheias de gente, uma rua
pulsante, viva. As casas tinham curvas, cores vibrantes, no seu interior
normalmente um móvel ou outro de herança de família, plantas naturais, móveis novos
combinado perfeitamente com os antigos, nas paredes quadros de artistas
regionais ou até mesmo da família.
Com a globalização e as novas tecnologias digitais as coisas foram ficando genéricas, o espaço e o lugar ficaram sem significados. Hoje as igrejas são templos de cadeiras de plástico, banda de instrumentos barulhentos, sem contemplação, sem iluminação difusa que promove a introspecção, gritos e danças são ouvidos até do lado de fora. As feiras livres agora apresentam seus produtos previamente embalados, já não tem aquele pastel de feira com caldo de cana, e parte desse comércio foi para os mercados que agora são hipermercados, os mercadinhos de bairro praticamente sumiram.
As
casas dão lugares a prédios cada vez mais altos, cheios de vidro que confundem
os passarinhos que batem neles e caem mortos, se confundem com o reflexo do
sol, e muitas vezes até as gramas dos condomínios são de plástico. Quando tem
casa ainda são reformadas com linhas retas e padronizadas, não existe mais originalidade
é tudo genérico. No interior tudo que é velho é feio e as casas se enchem de
informações nas paredes no chão e tudo é tão igual.
A
falta de tempo para cozinhar faz as pessoas recorrerem aos pedidos pelos aplicativos,
o gostinho de comida de casa, de cozinha quente e cheirosa hoje é raridade. Procurando
por essas normalidades de cada lugar a gente viaja. Nos hotéis em qualquer lugar
do mundo existe um padrão, o regionalismo tá aonde gente? Como assim ira a
Porto Seguro e não encontrar nos hotéis comidas regionais?
Aqueles encontros no final da tarde nas calçadas, que delícia! Essa nova geração não conhece, mas tem uma intimidade com as telas, até o café da esquina, ou boteco da rua do lado, agora para atrair clientes precisa ter um ambiente instagramável, ou seja, ambiente bonito que as pessoas possam tirar fotos e divulgar o local. O centro da cidade agora é quase desértico, as pessoas preferem os ambientes de shopping e o lugar comum vai ficando sem vida, a cidade não pulsa. A terra dos biscoitos de "chimangos" e "avoadores", agora introduziram o prefixo, "gourmet" em tudo para valorizar o produto. E nas voltas que o mundo dá, a vida vai perdendo um pouco em cada mudança padronizada no mundo globalizado e vázio.