quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Carpe Diem

Li no livro do universo ás jabuticabas de Rubem Alves:"Carpe Diem" quer dizer "colha a vida". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente. Ah, Rubem, nem te conto! Hoje colhi cajus e pitangas, o jasmim amanheceu florido, e temos abelhas no quintal, os passarinhos fazem a festa em plena primavera, achoque era essa a alegria de quintal que você tinha em seu paraíso a fazenda santa Elisa.



O dia deve ser colhido porquê é único e ele escorre pelas mãos como o sumo das frutas escorrem pela boca. Gosto de ler um pouco quando o dia começa, mas Nietzsche estava certo: "De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo —ler um livro é simplesmente algo depravado". Imagina se Nietzsche tivesse um quintal desses, e tivesse de escolher entre as depravadas e escandalosas noticias dos noticiários agora. É lama pra um lado, é óleo pra outro é direitos sendo roubados... A vida tá cheia de vixe, e eita.
E nas voltas que o mundo dá, é preciso desacelerar um pouco, experimentar o que dia tem a oferecer pra poder entender esse mundo doente. Combinamos esse mês de resgatar uma coisa boa por dia, vamos aprender a agradecer, a buscar alguma coisa ou acontecimento que nos ofereça um pouco de felicidade diária, como disse Guimarães: a vida é assim, quer da gente é coragem, e vamos combinar né? Pra ser feliz sem os rótulos que nos impõem é preciso coragem. Feliz primavera.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Grilo

Na estória do Pinóquio tem um grilo que o orienta como se fosse sua consciência, na de Mulan tem o Gri Lee que também é um guia. Quando meu mais velho era criança ganhou um presente de natal que nem lembramos qual era,mas na embalagem veio um gafanhoto, a gente pressiona ele no chão  logo ele pula sozinho. A decoração do presente se tornou O PRESENTE. Ontem recolhendo brinquedos para doação encontramos o nosso Gri Lee. Todo judiado pela ação do tempo e de tantas brincadeiras.

Gri Lee
Lembramos de tatas risadas que ele nos proporcionou e decidimos que ele ficaria conosco por mais um tempo. Lembrei da vez que nós compramos a sua primeira bicicleta achando que ia fazer sucesso, mas o brinquedo que mais fez sucesso foi um cavalinho de camelô. E nas voltas que o mundo dá, adoro fazer a faxina de primavera, é uma faxina coletiva, onde cada um doa o que não serve mais, joga fora o que não tem concerto. E, sobretudo guarda coisas que para muitos seria sem valor. O Gri Lee é a prova de que o conceito de riqueza varia muito.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Primavera

Deméter é a deusa grega da terra cultivada, da fertilidade e das estações do ano. Filha de Cronos e Reia, é também conhecida como Ceres na mitologia romana e tem seu nome derivado da palavra cereal, referindo-se a todos os tipos de grãos. Por ser neta de Gaia é considerada a reencarnação da mãe terra e cultuada em comunidades rurais antes da chegada do cristianismo. A conexão com Deméter é feita apenas colocando os pés descalços em contato com a terra.
A deusa teve vários filhos, entre eles, Perséfone a deusa da primavera e Despina a do inverno. Hades raptou Perséfone certa vez e a mãe em desespero se retirou do mundo e este entrou em decadência sem grãos, a vida definhava o gado morria. Então Zeus pediu a Hades para libertar sua amada. Ele o fez com uma condição ela deveria comer um bago de romã. Quem comer algo no submundo está condenado a voltar.
Ficou então estabelecido que Perséfone ficaria três meses com a mãe e o resto do ano com Hades. O primeiro período corresponde à primavera, em que os grãos brotam, saindo da terra e o segundo é o da semeadura de outono, quando os grãos são enterrados, da mesma forma que ela volta ao submundo.
Na Grécia antiga havia um festival "Tesmofórias", celebrado anualmente em outubro em honra a Deméter era praticado exclusivamente por mulheres, seguindo-se de três dias de festa pelo retorno de Perséfon do submundo, era oferecido uma bebida sagrada aos iniciados, mas a característica mais marcante desse ritual era a punição aos criminosos que agiam contra as leis sagradas e contra as mulheres.
Enas voltas que o mundo dá,mulheres do mundo uni-vos, precisamos encontrar o nosso elo com o sagrado feminino, colocar o pé literalmente no chão, saber nos defender e buscar nosso objetivos. Sejamos sempre primaveras.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Oração dos passarinhos

Um dia, Manoel de Barros escreveu que foi programado para gostar de passarinhos.Todos os dias cedo da manhã os passarinhos fazem uma oração aos céus com cantos de todos os tons e assobios se comunicando com o firmamento. Depois que Nico foi embora o hábito de colocar uma frutinha no cajueiro passou a morar em mim. Todavia, os beneficiários agora são os passarinhos que se alimentam e até brigam pelos pedaço de fruta.
Sempre tive o cuidado de ter plantas que produzem diversas cores de flores, mas eles agora estão se diversificando, hoje cedo tinha um cardeal e um pica-pau no meu quintal-aconchego-morada. As gatas ficam ali paradas a observar, os cães já não ficam mais em busca de caçá-los, e o cajueiro está com cinco ninhos chocando ovos. O pé de boldo com suas flores lilás oferecem alimento para os beija-flor, e todos os dias em troca eu recebo uma cantoria diversificada. Acho que é a oração dos passarinhos ao criador.
E nas voltas que o mundo dá, acho que assim como o Manoel de Barros, eu também fui programada para gostar de passarinhos, mesmo quando o dia envelhece e eles buscam abrigo nas árvores para dormir estão cantando em perfeita sinfonia. E assim como Quintana cujo nome lembra a quitanda que tem flores e frutas a venda, a gente segue passarinhando.

Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Mário Quintana

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Passagem

Conversar com Rau Ferreira é voltar no tempo. Ontem ele me falou de umas pessoas interessantes que viveram na nossa amada terrinha, tinha Honório, Silvinha e Adalto, dois deles gostavam de cantar embolada de coco nas feiras livres da cidade. Não lembro desses, mas lembro muito bem de Adalto, esse para mim era um homem muito alto (eu era menina), ele costumava percorrer as ruas da cidade com a mão na orelha falando sozinho, lembra muito os jovens de hoje com seus celulares.
Ele era irmão de seu Adelino, o homem que fazia os doces mais saborosos da cidade, acredito que Marcos seu filho adotivo ainda os vende na feira livre da cidade, acredito que se George Tsoukalos se o visse diria que ele era uma alma evoluída que tinha encarnado no tempo errado e estaria usando seu Smartfone virtual. O fato é que naquela cidade emblemática haviam personagens maravilhosos, que do seu jeito criou um atmosfera vibrante, com diferenças intelectuais e evolutivas significativas. Não vi os cantadores de coco na feira, mas vi Adalto com seu fone virtual, comi inúmeras vezes o doce de coco caramelado de cor vibrante e que gostava de grudar nos destes e favorecer um festival de sabores no céu da boca.
E nas voltas que o mundo dá, lembranças doces, sem preconceitos sem mágoas e com um doce sabor de coco queimado, são dessas que fazem a gente saber que viver é guardar lembranças agradáveis é um alento nos dias difíceis de hoje, são ritos de passagem para uma vida simples e saborosa. Obrigada pela lembrança Rau.