segunda-feira, 23 de maio de 2022

Sofrer

Uma das invenções mais legais dos último tempos, foram os discretos fones de ouvidos, eles funcionam como um teletransporte. Acho tão chique quando a gente coloca eles, as pessoas não se aproximam muito pra não interromper, além do fato de poder ascender ao mundo particular das músicas escolhidas a dedo e que a gente pode levar pra onde quiser. Esses dias no ônibus, sem meu preciso "teletransporte" ouvi uma senhora contando como o sofrimento ajuda as pessoas a serem melhor, com um discurso tipo: "a dor, ensina a gemer" e que Deus permite que soframos para conquistar o paraíso. Que saudade dos meus fones!
A dor torna as pessoas mais brutas, tira a sensibilidade, a esperança, a alegria de viver. O sofrimento embrutece, não vejo glórias na dor, quero a alegria de um analgésico, e eles sempre surgem em forma de sorrisos, abraços. Já vi gente ruim por normatizar o sofrimento, mas vejo gente feliz espalhando afetos, abraços, felicidades. O único sentimento que é gratificante, não adoece, não mata, nem embrutece é o amor e o respeito.
Uma criança que vai a escola por obrigação e tem a responsabilidade de tirar notas altas caso, contrário não vai ganhar presentes, ou vai ficar de castigo, ou até mesmo apanhar, não conhece a boniteza do amor e do afeto. Se ela aprende com prazer de descobrir novos mundos, novas leituras de mundo lhe é permitido e a aprendizagem se torna uma rotina prazerosa.  E nas voltas que o mundo dá, não quero sofrer pra alcançar o paraíso que nem sei se existe, não quero que a vida seja bruta mais do que já é. Eu quero a alegria de dias ensolarados, de sorrisos soltos, abraços apertados, pois só o amor liberta e oferece felicidade.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Desafio

O Guimarães tem um personagem muito lindo chamado Riobaldo em Grandes sertões veredas e uma das frases que mais gosto, é quando ele diz: "a vida é assim: esquenta, esfria. Aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". Pois bem Riobaldo, esses dias tive um desafio. O que para muito é natural, para mim, ah, para mim era de um medo sobrenatural, aterrador, descer ladeira. O meu desafio era não só descer, mas também subir, não uma ladeira qualquer, mas a serra do Marçal. E nesses últimos quatro meses fiz isso toda semana. E ela já não me assustava mais, aprendi a gostar do desafio. E como uma viajante me deixei levar pelo vento, o cheiro e as lindas paisagens que ela presenteia seus viajantes. E assim, chegamos a mais um ciclo fechado.

Eu, Geysa e  a orientadora Arlete

Nós e nossos graduandos de pedagogia

Cabelos ao vento

Um gavião dando seu passeio matinal

Apreciando o sol e fazendo fotossíntese.

E nas voltas que o mundo dá, a vida é assim, esquenta e esfria. E por falar em frio, há rumores que ele está chegando com força total já, já. Em outros tempos também não gostava das tempestades, hoje sou amante dela, assim como de dias ensolarados. E vida, seja gentil, aperta, mas não muito, afrouxa, mas não me largue, esquente, mas não esfrie demais. E o que temos pra hoje é coragem.



segunda-feira, 9 de maio de 2022

A loba

Certa feita, o Ruben escreveu que as mães de seu tempo eram árvores, cresciam sobre raízes profundas, era criadas para obedecer, primeiro os pais, depois o marido. Eram como as "mulheres de Atena" não saíam do lugar e muitas vezes eram podadas. Depois elas viraram pássaros e voaram. A minha mãe era uma loba, criou os filhos praticamente sozinha, pois enviuvou muito cedo, trabalhou duro pra educar todo mundo, cada um com uma personalidade diferente, e nós, éramos muitos. Fui vendo a sua força e ousadia, sua coragem de se mostrar destemida quando tudo causava medo, que me tornei uma loba.
Na alcateia, a fêmea lidera o passo e segue na frente guiando os demais, os filhotes quando assumem a maturidade se afasta para criar suas próprias famílias. A loba mantem seus instintos e aprende com suas ancestrais. Conquista o respeito de todos e toma decisões sem interferências, mas também é protetora, cuida dos seus e quando sai de sua toca deixa os pelos para aquecer as crias de outras fêmeas de outras espécies.
Romantizaram a maternidade dizendo que todas as mulheres devem ser mãe um dia, que a maternidade nos torna forte, que sabemos tudo sobre os filhos e mais um monte de asneiras, e muita gente acreditou nisso. Sinto informar, mas estavam errados. Nem toda mulher quer ser mãe ou deveria ser, a maternidade não nos deixa sem medos, muito pelo contrário, temos medo de tudo, mas o amor nos oferece uma força descomunal, é o amor incondicional que nos torna como lobas. Passamos a viver com outro coração fora do nosso corpo, batendo e sentindo. E vivemos em outra vida, o pensamento sempre ocupado, é como se tivesse a mesma alma habitando outros corpos, tememos por tudo.
E nas voltas que o mundo dá, aprendi com minhas ancestrais que respeito é a base dos afetos, da confiança e da lealdade, que o medo pode existir, mas o amor materno é imensurável. Eu quero ser a cultivadora de alegrias e sonhos nessa unidade familiar permanente. Ontem foi um dia de lembrar, das mulheres que amei, das quais com quem cresci, da mulher que tornei, das que vieram antes de mim, das que virão depois de mim. Embora seja uma data capitalista voltada para o consumo, também é uma data de reflexão.


domingo, 1 de maio de 2022

Mandala

Para a filosofia, mandala é um diagrama composto de formas geométricas concêntricas, utilizada no hinduísmo e no budismo como objeto ritualístico na prática da meditação, assim ela é considerada a representação do universo e do ser humano. Para teoria Junguiana, representa a luta pela unidade total do EU. Na agroecologia a mandala é muito mais que a representação do eu é o círculo sagrado da produtividade baseada no respeito a todos os seres vivo e sua interação com meio ambiente.
O projeto mandala desenvolvido pelo Dr. Willy Pessoa Rodrigues tem como princípio a produção agrícola sustentável e permanente, é um conjunto de círculos concêntricos aonde o centro dele se encontra uma fonte de água com criação de patos, peixes ou outro animal que deve enriquecer a água da irrigação com seus degetos, essa água deve ser usada para irrigar a mandala nutrindo o solo. 
Os três primeiros círculos são denominados “Círculo de Melhoria da Qualidade de Vida Ambiental”, e destina-se ao cultivo de hortaliças e plantas medicinais, atendendo às necessidades de subsistência da família. Os cinco anéis seguintes formam os “Círculos da Produtividade Econômica”, e se destinam a culturas complementares diversas, como milho, feijão verde, abóbora e frutíferas, cuja produção em maior escala permite criar excedente para comercialização, gerando renda para o agricultor. O último anel da Mandala é denominado “Círculo do Equilíbrio Ambiental” e destina-se à proteção do sistema, com cercas vivas e quebra-ventos, como forma de melhorar a produtividade e prover parte da alimentação animal, além da oferta dos nutrientes necessários à recuperação do solo.
No nosso projeto de mandala, optamos por ter no centro um galinheiro, ligado ao piquete com um corredor central, assim elas podem transitar para o "dormitório" e saírem para ciscar e viverem felizes enquanto fertilizam o solo e se alimentam dos insetos que poderiam causar danos para as plantas, assim as pessoas se alimentam de ovos e de carne de galinhas que viveram felizes, sem sofrimento de viver confinada. O primeiro circulo fica com os temperos e plantas medicinais que também oferecerão flores para as abelhas que ficam nas árvores do quintal ecológico. E o último circulo estão as árvores frutíferas como abacate, limão, laranja e caju, também temos um umbuzeiro enxertado o umbu gigante.
Na nossa mandala a irrigação será feita por gravidade com água corrigida pra evitar a salinidade, também temos os canteiros de ciscar para as galinhas. Tudo realizado com aulas práticas integrando conteúdos da base comum como biologia, história, matemática, física, assim como as aulas do curso profissionalizando de agroecologia.

Formando os círculos


                                             Círculos marcados respeitando a topografia do terreno


Irrigação feita por gravidade.

Aula prática sobre as escolhas das plantas


Aula sobre vasão e irrigação

Implantar uma mandala não é só escolher holisticamente por que é bonita, mas envolve diversas ciências, a escolha das plantas, o controle das pragas, a criação de animais felizes e uma série de outras informações são de extrema importância para a produção de alimentos saldáveis, sem fertilizantes químicos, sem agrotóxicos, sem sofrimento. Respeitando todas as vidas desde o solo até o ar e, sobretudo, de quem se encontra no topo da cadeia alimentar, sem nunca esquecer a mãe terra, a grande provedora de alimentos. É uma experiência gratificante que tenho tido a oportunidade de fazer parte, e até nas aulas ninguém fica na frente do outro estão todos alinhados na mesma curva de nível, respeitando, a diversidade, promovendo a inclusão. E nas voltas que o mundo dá, a produção com base no modelo agroecológico e agroflorestal são formas de proteger a si e aos outros, garantir a permanência da vida sobre a terra sem degradação. E desenvolver a cidadania planetária por meio da ecopedagogia. Em breve mais noticias sobre o andamento do projeto.