quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Passarinhar

Dia desses vindo pra casa um passarinho caiu da árvore, coloquei no casaco e trouxe pra casa, ele que é um guerreiro ganhou o nome de Virgulino, com o passar dos dias já fortinho começou a voar pela casa, pousava no computador quando eu estava trabalhando, vinha quando eu chamava, e virou o novo xodó de todos, as gatas o acolheram como irmão, os cães se acostumaram com os seus voos rasantes, mas a casa se tornou pequena demais pra ele. Um belo dia ele saiu para o quintal e tomou um novo rumo pra sua vida. Vez por outra ele aparece por aqui.

Tirando um cochilo

fazendo companhia

O dia de sua chegada

Virgulino e Suzana

Virgulino é um amor diferente, sem gaiolas e sem grilões, e por ser livre vai e vem quando quer, mas já faz uma semana que ele não aparece pra comer as frutas no quintal, sinto falta. E nas voltas que o mundo dá, o amor é como um passarinho que pousa na ponta do dedo da gente, vai quando quer e a aparece quando bem entende. Se fosse necessário prender não seria amor.
 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Pedras

Quando o Pedro era criança colecionava pedras, tinha de todas as cores e todos os tamanhos.  Depois de um tempo tomado poeira elas foram guardadas. Esses dias numa das arrumações encontrei as pedras do Pedro. Todas lindas, e passamos um bom tempo olhando pra cada uma e lembrando onde foram achadas, sua composição mineral e o que os místicos falam sobre cada uma delas, um daqueles pequenos prazeres que acontecem no descuido do dia, uma felicidade. Gosto desses descuidos entre as horas, esses pequenos presentes no meio do dia. Quando eles eram pequenos me procuravam para brincar, ler e soltar pipas, tomar banho de chuva, de mar e de mangueira, depois que crescem, os interesses são outros. Que bom que brinquei todas as vezes que pude! Que bom que nossas pedras são lindamente coloridas! Tem aquela colhida no leito do rio, aquelas da praia, aquela de uma caminhada, e todas elas guardam uma lembrança, voltaram para o armário das coisas pra serem lembradas, não é só uma caixinha de pedras, é uma caixa de vida vivida.
O Rubem falou certa vez que ostras felizes não fazem pérolas, eu não quero pérolas eu quero as pedras, que sejam de diferentes formatos e diferentes cores, mas que sejam pedras que morem fora de mim num canto do armário, que guarde momentos vividos com intensidade e que sejam eternos. Os prazeres pequenos são mais intensos que os chamados grandes. Eles brotam em pequenas coisas no dia, seja uma leitura agradável, seja num filme que nos fazem rir, seja naquela conversa besta que faz a barriga doer de tanto rir. 
E nas voltas que o mundo dá, ainda colhemos outras pedras, pode ser um sorvete com batata frita, umas horas (perdidas) na livraria, um café quente sem gastura, uma tarde de pernas pra o ar, ou uma caminhada numa praia. As pedrinhas da vida são pequenas alegrias que confortam o coração, aquecem a alma e nos fazem sentir a beleza de ser cada um da sua maneira. E quando puder brincar, brinque, olhe pra o vento nas folhas de ipê ou nas plantas se curvando sob a chuva. Por que viver é colher esses prazeres diários sem medo de ser feliz.