segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Cheganças

A chegada foi num domingo, como a música de Alceu Valença. O céu escandalosamente azul, contrastando com o ipê amarelo da rua do lado já em sua extravagante beleza floral, fez o astro rei chegar um pouco mais cedo. Ele deu a graça alegrando a aviflora, tinha abelha fazendo zum, zum, tinha bem-te-vi cantando em seus galhos e até o João de barro fez uma casinha lá, e não vai demorar para as cigarras começarem sua cantoria. O chão já tem flores formando um tapete e o vento acarinhando as flores amarelas e os cabelos pretos da moça que espera o ônibus. É um vento breve, suave e menos gelado. É quase um carinho, um cafuné.
As árvores parecem ser vaidosas nesse tempo, se amostram, se mostram definitivamente belas, as acácias e flamboyant  começaram a floração. É nesse tempo que a gente se enche de Esperança em dias melhores. É quase impossível não ser feliz na primavera que já tá ali batendo na porta. Os dias de setembro são assim, um contraste do amarelo e azul quase uma tela de Van Gogh. Eu poderia definir como uma carta de amor, aquela que a gente espera ansiosamente sua chegada e quando abre, o fôlego acaba de tanta alegria.
E nas voltas que o mundo dá, um dia vou virar um ipê amarelo, morar perto do rio, servir de abrigo para João de barro e companhia, ser o palco para o canto das cigarras no final do dia, e ficar escandalosamente bela durante alguns dias do ano. Feliz primavera povo lindo, ela tá chegando já.