segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Renascer

No Japão do século XV surgiu uma técnica de colagem de cacos chamado de Kintsugi que consiste em colar os cacos de um peça de cerâmica com uma laca japonesa feita com ouro. Assim, a nova peça feita da velha ganha nova roupagem e sua utilidade é resgatada. Nas igrejas medievais o uso de vitrais com vidros de cores diferentes formando figuras foi utilizado a partir do século XI. Tem gente que é como vitral, feito de pedaços coloridos, tem gente que é feito uma peça de Kintsugi que aceita suas imperfeições e as realçam, e tem gente que é pó de vidro que vira miçanga colorida.
As vezes a vida age com uma força insuportavelmente forte e não só nos quebra, mas faz um pó moído como se um rolo compressor passasse por cima. Uma vez Cal Sagan disse que "somos poeira de estrelas". Acho lindo isso, mas é muita dor pra pouca poesia. E quando se está só o pó, o vento é outro problema, e não tem a fênix de Alvo Dumbledore para deixar suas lágrimas criarem um novo ser das cinzas ou do pó. O jeito é ser como o exterminador do futuro, se unir grão por grão como se fosse um mercúrio líquido e formar uma miçanga, depois outra, cada uma de uma cor diferente.
E nas voltas que o mundo dá, não tem poeira de estrelas, nem técnicas japonesa ou vitral colorido. É preciso juntar a poeira, fazer suas próprias miçangas coloridas, enfiar no fio da esperança e  criar um colar novo, com novas histórias e enfeitar a vida para voltar a sorrir.

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