segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Fome

Adélia Prado tem um poema que diz: "Não quero faca, nem queijo. Quero a fome". Ela tem um capacidade incrível de sintetizar as coisas. Não basta ter a oportunidade nem os recursos, mas é preciso ter a vontade. Sem vontade de fazer algo nada será feito. Então pensei no reverso. A fome mata se não for saciada então não se deve alimentar algo que não nos agrada. Quando se tem pensamentos desagradáveis é melhor não alimentá-lo assim ele morrerá.
Dizem que temos dois lobos dentro de nós e eles brigam por comida, aquele que melhor alimentar mais forte ficará, então é bom escolher o que a gente alimenta. Seja o lobo interno, seja os pensamentos inferiores, seja pessoas que trazem noticias e conversas desagradáveis, não alimente o que não te faz bem.
E nas voltas que o mundo dá quero a faca e  o queijo como a Adélia, mas também quero a vontade, pois um não tem serventia sem o outro. Quero dos dias de primavera com floradas, quero as tempestades de verão, a preguiça de um fim de tarde a beira mar, a vontade de viver mais e aproveitar cada oportunidade que a vida possa me oferecer, aliás eu quero tudo e alimentar apenas o lobo bom.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Retrato

Um retrato é a representação de uma imagem, seja de uma pessoa, animal ou paisagem. E pode ser apresentado como pintura, fotografia ou desenho. Os retratos são importantes fontes de informações e também muitas vezes considerados documentos importantes por retratarem fatos em épocas específicas, retratos contam histórias. A Frida pintava a si mesma porque era o que ela mais via e melhor conhecia e pintou autorretratos. Van Gogh também pintou além de paisagens, a si mesmo. A Cecília Meireles tem um poema que ela se pergunta onde ficou o rosto e a juventude de antes ao se olhar no espelho que reflete a sua imagem de mulher madura.
Antes as fotografias eram mais limitadas, eram tiradas em situações específicas e guardadas com esmero, as vezes emolduradas ou colocadas em álbuns de fotografias. Hoje centenas de fotografias são tiradas diariamente por uma pessoa com um celular mão, depois deletadas, algumas guardadas digitalmente. A fotografia ficou banalizada, dizem algumas pessoas, muitas lojas de revelação e impressão de fotos já não existem mais. Muitos efeitos são adicionados digitalmente nas fotos de hoje e até efeitos especiais mudam a face das pessoas. 
Esses dias tirei uma tarde para escolher fotografias para "revelar" ou imprimir, colhi as mais que considerei mais importantes para um álbum, as mais felizes para decorar uma caixa, asa mais bonitas para fazer um quadro de colagens. Lembrei das fotografias que não foram tiradas e existem apenas na memória dos que viveram aqueles momentos, algumas são compartilhadas como o dia que o quarto de Pedro repleto de arte dele com origamis de flocos de gelo que nós não fotografamos, mas nós dois lembramos cada detalhe. Queria ter registrado, mas aí me dei conta que os momentos mais felizes não foram fotografados por que a gente estava ocupado vivendo.
As fotografias impressas ainda são consideradas mais seguras por mim, isso porque elas não se apagam, não somem na "nuvem" ou desaparece em um "pendrive", mas todas elas correm o risco de desaparecerem dos mecanismos digitais que as guardam, e até podem sumir das memórias orgânicas humanas se a demência chegar.
O fato é que uma das maiores invenções humanas é a fotografia, retratar fatos, a si mesmo, as coisas e pessoas que se acreditam ser interessantes é um ato de amor. E nas voltas que o mundo dá, as fotografias são recortes de histórias vividas e elas sempre têm uma coisa importante para ser revelada, contada, como uma carta, um poema ou um livro. Eu também considero as letras como "pixel" de fotos, cada um quadradinho tem uma informação que compõem a imagem, já as letras cada uma tem informações que compõem a escrita, em todos os casos existe a contação de uma história.