segunda-feira, 9 de maio de 2022

A loba

Certa feita, o Ruben escreveu que as mães de seu tempo eram árvores, cresciam sobre raízes profundas, era criadas para obedecer, primeiro os pais, depois o marido. Eram como as "mulheres de Atena" não saíam do lugar e muitas vezes eram podadas. Depois elas viraram pássaros e voaram. A minha mãe era uma loba, criou os filhos praticamente sozinha, pois enviuvou muito cedo, trabalhou duro pra educar todo mundo, cada um com uma personalidade diferente, e nós, éramos muitos. Fui vendo a sua força e ousadia, sua coragem de se mostrar destemida quando tudo causava medo, que me tornei uma loba.
Na alcateia, a fêmea lidera o passo e segue na frente guiando os demais, os filhotes quando assumem a maturidade se afasta para criar suas próprias famílias. A loba mantem seus instintos e aprende com suas ancestrais. Conquista o respeito de todos e toma decisões sem interferências, mas também é protetora, cuida dos seus e quando sai de sua toca deixa os pelos para aquecer as crias de outras fêmeas de outras espécies.
Romantizaram a maternidade dizendo que todas as mulheres devem ser mãe um dia, que a maternidade nos torna forte, que sabemos tudo sobre os filhos e mais um monte de asneiras, e muita gente acreditou nisso. Sinto informar, mas estavam errados. Nem toda mulher quer ser mãe ou deveria ser, a maternidade não nos deixa sem medos, muito pelo contrário, temos medo de tudo, mas o amor nos oferece uma força descomunal, é o amor incondicional que nos torna como lobas. Passamos a viver com outro coração fora do nosso corpo, batendo e sentindo. E vivemos em outra vida, o pensamento sempre ocupado, é como se tivesse a mesma alma habitando outros corpos, tememos por tudo.
E nas voltas que o mundo dá, aprendi com minhas ancestrais que respeito é a base dos afetos, da confiança e da lealdade, que o medo pode existir, mas o amor materno é imensurável. Eu quero ser a cultivadora de alegrias e sonhos nessa unidade familiar permanente. Ontem foi um dia de lembrar, das mulheres que amei, das quais com quem cresci, da mulher que tornei, das que vieram antes de mim, das que virão depois de mim. Embora seja uma data capitalista voltada para o consumo, também é uma data de reflexão.


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