terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Pedras

Quando o Pedro era criança colecionava pedras, tinha de todas as cores e todos os tamanhos.  Depois de um tempo tomado poeira elas foram guardadas. Esses dias numa das arrumações encontrei as pedras do Pedro. Todas lindas, e passamos um bom tempo olhando pra cada uma e lembrando onde foram achadas, sua composição mineral e o que os místicos falam sobre cada uma delas, um daqueles pequenos prazeres que acontecem no descuido do dia, uma felicidade. Gosto desses descuidos entre as horas, esses pequenos presentes no meio do dia. Quando eles eram pequenos me procuravam para brincar, ler e soltar pipas, tomar banho de chuva, de mar e de mangueira, depois que crescem, os interesses são outros. Que bom que brinquei todas as vezes que pude! Que bom que nossas pedras são lindamente coloridas! Tem aquela colhida no leito do rio, aquelas da praia, aquela de uma caminhada, e todas elas guardam uma lembrança, voltaram para o armário das coisas pra serem lembradas, não é só uma caixinha de pedras, é uma caixa de vida vivida.
O Rubem falou certa vez que ostras felizes não fazem pérolas, eu não quero pérolas eu quero as pedras, que sejam de diferentes formatos e diferentes cores, mas que sejam pedras que morem fora de mim num canto do armário, que guarde momentos vividos com intensidade e que sejam eternos. Os prazeres pequenos são mais intensos que os chamados grandes. Eles brotam em pequenas coisas no dia, seja uma leitura agradável, seja num filme que nos fazem rir, seja naquela conversa besta que faz a barriga doer de tanto rir. 
E nas voltas que o mundo dá, ainda colhemos outras pedras, pode ser um sorvete com batata frita, umas horas (perdidas) na livraria, um café quente sem gastura, uma tarde de pernas pra o ar, ou uma caminhada numa praia. As pedrinhas da vida são pequenas alegrias que confortam o coração, aquecem a alma e nos fazem sentir a beleza de ser cada um da sua maneira. E quando puder brincar, brinque, olhe pra o vento nas folhas de ipê ou nas plantas se curvando sob a chuva. Por que viver é colher esses prazeres diários sem medo de ser feliz.

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