Chegando em casa depois de um dia cheio, coloquei uma massa no fogo e pedi para um dos meninos pela os tomates para o molho. Nesse momento revi uma cena corriqueira em cozinha de mãe quando minha irmã mais velha pelava tomates para o molho da massa. A cena se repetiu. O cheiro do manjericão colhido no quintal fresco e saudável para servir o jantar me remeteu a memórias inesquecíveis que surgem em pequenas horinhas de descuido e meu coração se enche de alegrias saborosas.
A cozinha sempre
foi um laboratório de sabores e aprendizagens, é quase uma alquimia, os hábitos
alimentares que me identificam e constroem minha identidade vieram de muitas
mulheres que vieram antes de mim. As receitas da avó que passaram para a mãe e chegaram até mim, mas não somente as comidas ancestrais que fazem parte de minha
vivência.
As mulheres que
viveram antes de mim foram cruciais para a vida que tenho na atualidade e a
minha vivência será uma contribuição para as que vierem depois de mim. Os
direitos que temos hoje como trabalhar fora, ter sua própria renda, decidir
quando, como e com quem ter filhos e se quer ter, assim como o direito de voto
e tantos outros que usufruo hoje só foram possíveis pelas lutas delas.
As minhas
ancestrais agradeço pelas conquistas e lutas travadas as mulheres que virão
depois de mim, tenho a responsabilidade de manter a luta para garantia de
direitos que ainda não foram conquistados. E da alquimia da cozinha os sabores
ancestrais que me foram transmitidos tenho a obrigação e o dever de manter
intactos para as futuras gerações.
O afeto que foi
herdado, as heranças culturais que são presentes pra minha existência devem ser
preservadas para as virão depois de nós. A ancestralidade se faz presente em
meu cotidiano com as histórias contadas de geração após geração, da identidade
cultural, das danças, das receitas que enchem a cozinha de sabores e cheiros,
das memórias afetivas das festividades familiares, assim com os traços
biológicos que me foram dados por herança genética.
E todas as
mulheres que viveram antes de mim, habitam meu ser e se mostram presentes em
todas as esferas de atuação da vida diária. O meu lugar no mundo, as minhas
relações afetivas estão repletas de conhecimento, identidade e
representatividade de todas as mulheres que vieram antes.
E nas voltas que o mundo dá, educar meninos para o respeito e afeto com as mulheres também é uma responsabilidade nossa de mãe. Em casa de mãe tem afeto, tem respeito e comida boa, casa de mãe é ninho, casa de mãe é colo, está sempre aberta pra quando precisar com comida e risada, com cheiros e uma generosa pitada de ancestralidade. Por que não há lugar melhor no mundo que casa de mãe.
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