sábado, 15 de junho de 2024

Abusos

Demeter ou Ceres, assim como Zeus era filha de Cronos e Reia. Portanto, irmã de Zeus com quem teve uma filha, a Perséfone que assim como a mãe era responsável pela colheita e fertilidade do solo. Seu tio Hades, deus do mundo inferior se apaixona por ela e num acordo com Demeter que para não perder sua filha e o mundo ficar em descontrole, concorda em dividir o ano em duas partes, metade sua filha fica com Hades e a outra metade com a Demeter. A partir desse mito, os gregos e romanos explicaram a divisão do ano em quatro estações. Durante o outono e inverno enquanto Perséfone está no submundo, a terra se mostra fria, cinza e com tempestades e trovões. Durante o tempo que ela passa com sua mãe Demeter, o clima muda, a terra fica festiva, cheias de frutos, calor dias longos e ensolarados é a estação de primavera seguida do verão.
Em Roma - Itália tem uma escultura que causou-me um espanto tremendo, seja pela perfeição do escultor Gian Lorenzo Bernini, seja pela expressão de dor e desespero dela, assim como seu corpo marcado pelos dedos de seu raptor, a presença de Cérbero, o cão de três cabeças com três personalidades diferentes. A escultura tem pouco mais de dois metros de altura, é fotografada diariamente por centenas de milhares de pessoas que olham a perfeição dos detalhes esculpidos em mármore branco, mas o impacto tão maior que os detalhes da arte do artista, são as expressões de dor, os olhos desesperados, a lágrima em seu rosto, o corpo apertado pelos dedos do raptor. E nesse mito representado na escultura indescritivelmente bela e imortal, as pessoas veem a poesia que eu não consegui enxergar.

Foto: O rapto de Perséfone 
Fonte: acervo pessoal - 2024

Não há como ficar indiferente, aliás não há como não ser impactada por essa perfeição imortalizada pelas mãos humanas, os detalhes da anatomia das mães, a perfeição do corpo feminino e a pressão dos dedos sobre a carne jovem branca são alguns dos detalhes que eu ficaria por horas a observar sem descanso, mas tem gente demais, é melhor caminhar.

Foto: O rapto de Perséfone 
Fonte: acervo pessoal - 2024.

Depois de ver essa indescritível expressão artística e os mitos gregos que ainda hoje vivem no imaginário de todo o mundo, nas histórias da Disney e em diversos filmes. Também fiquei a lembrar de outras histórias como me foi contada dia desses de uma amiga que assim afirmou: "minha bisavó foi pega no mato". Quando os exploradores europeus aqui chegaram, caçavam mulheres indígenas no floresta, tomavam para si e as tinhas possuíam como bem entendiam. Nos dias de hoje, meninas são caçadas nas ruas e precisam estar atentas, não podem andar sozinhas, não podem se comportar de maneira que atraia o sexo oposto. Mulheres não se sentem seguras em qualquer lugar.
E nas voltas que o mundo dá, são muitas as Perséfones que diariamente sofrem com perseguições dos homens. As mulheres são diariamente silenciadas, perseguidas e usadas, suas mentes colonizadas e suas ações, desejos e aspirações amordaçadas. Precisamos mudar esse pensamento romântico de caça as mulheres.


Um comentário:

  1. Para isso serve a mitologia, o olhar atento e comprometido com a vida! Parabéns!

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