quinta-feira, 23 de junho de 2022

Barulhinho bom

O dia começou frio, cedo, a feira já movimentada com a venda de milho verde. Logo começa o trabalho em casa, a preparação da pamonha e da canjica, a fogueira sendo montada na frente da casa, as buchas de aço sendo escondida, a meninada já tinha pego um pacote pra logo mais a noite. As meninas preparando sua roupa de festa, laços de fita, e as simpatias do final do dia pra ver com quem deveria se casar. A casa tinha cheiro de canela, milho, cravo, açúcar queimado e o som da sanfona enchendo a atmosfera festeira. Assim começava o dia mais esperado do ano.
Depois de muito trabalho e preparação, a fogueira era acessa, as buchas de metal viravam bolinhas de fogo girando no cordão de barbante, se compartilhava com os vizinhos as comidas de milho. Tinha gente pulando fogueira se tornando compadres e comadres, tinha bombinhas "beijo de moça", os mais velhos contavam causos na beira da fogueira enquanto se aqueciam. E tinha faca vigem na bananeira, tinha gente atrás da porta com a boca cheia de água, tinha santo pendurado de cabeça pra baixo, tinha vela pingando na água, eras as simpatias que começavam nos festejos de santo Antônio e iam até São Pedro.
Depois das oitos todos alimentados e com simpatias em dia, chegava a vez do forró até a neblina da chegada das altas horas esfriar. E no dia seguinte, tinha gente dormindo em camas, sofás, em colchões e tapetes e até debaixo da mesa. E tudo começava outra vez, tinha café pilado no pilão, cuscuz de milho fresco, macaxeira e queijo coalho. O cheiro de festividade, confraternização e bolos diversos tomava conta de tudo. E nas voltas que o mundo dá, a festa se comercializou, saiu de casa e foi para os grandes centros, agora são grandes eventos. Não tem mais a magia do interior, disseram. Fomos buscar na roça, dia frio começando hoje, milho colhido no pé começando os trabalhos, a fogueira já montada aguarda pra ser acessa, e a  mágica começou novamente. Não teremos fogos, respeitamos os passarinhos, mas teremos buchas de aço no barbante sim, com o barulhinho do ria correndo logo ale do lado. Viva São João!

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